terça-feira, 26 de novembro de 2013

Os sãos não tem necessidade de médico...

"Os sãos não tem necessidade de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar os justos, mas os pecadores." - Jesus (Marcos 2-17)

Que a glória de Jah se derrame sobre nós!

Responsabilidade: esta é a base do amor fraterno. O amor só existe na verdade, na "real verdade".

Quem luta pela real verdade doa amor ao Universo. Esta é a luta da minha Igreja e da minha alma que se anima pelo poder do Espírito Santo.

A verdade é a luz que extingue as trevas da ignorância, do ódio e da opressão babilônica. A luz que emana do candeeiro de Sofia elimina toda escuridão. Aquele que segura o candeeiro e se proclama seu protetor, tem o dever e responsabilidade de manter a luz acesa e espalhá-la a todos os cantos do mundo. 

Nós, defensores da real verdade, somos como agricultores. Nossa obrigação é plantar a semente, pois ela no paiol não germina.
Semeada brota, cresce, frutifica.


 - "A terra por si mesma dá o fruto: primeiro a erva, depois a espiga e, por fim, o grão na espiga." (Marcos 4-28).

Todo bem está na real verdade, na sabedoria, na retidão moral e no amor fraternal universal.
Fora do bem só existe escuridão, dor, sofrimento.

Aprendemos pela graça da Providência Divina.
Portanto, o saber é um dom que obrigatoriamente tem de ser transmitido. Quem sabe e não ensina, nada sabe. 

O único motivo da nossa existência é a evolução.
Esta é a vontade divina que se fez vida, pelo amor infinito do nosso Pai - Jah.

Neste intuito fomos agraciados com o aparelho físico terrestre para nossas aquisições eternas.

Assim ensinou Alexandre à Alexandre, que repassou à Francisco - o cândido - que pelo espírito da iluminação transcreveu: "na queda também está o aprendizado e o mal indica posição de desequilibrio, exigindo restauração e corrigenda." 

"A evolução confere-nos poder, mas gastamos muito tempo aprendendo a utilizar este poder harmonicamente. A racionalidade oferece campo seguro aos nossos conhecimentos; entretanto, quase todos nós, trabalhadores da terra, demoramos séculos no serviço da iluminação íntima, porque não basta adquirir idéias e possibilidades, é preciso ser responsável, e nem é justo tão-somente a informação do raciocínio, mas também a luz do amor." (do livro Missionários da Luz).

"Repousa sobre mim o Espírito do Senhor, o Espírito da sabedoria e da inteligência, o Espírito do conhecimento e do amor de Jah." (Isaías 11-2)

"Nos anciãos está a sabedoria e, na longa idade, a inteligência. Com Jah estão a sabedoria e o poder, seu é o conselho e a inteligência." (Jó 12-12,13).

E continua: "... a sabedoria é melhor que as pedras preciosas. Não se igualará a ela o topázio da Etiópia, nem se poderá comprar com o ouro mais fino. De onde, pois, virá a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? Eis que o amor a Jah é a sabedoria e a inteligência é o apartar-se do mal." (Jó 28-18,19,20,28).

"Pai da glória, conceda-nos espírito de sabedoria e de revelação do pleno conhecimento, iluminando nossos olhos no entendimento, para que saibamos qual é a esperança de seu chamamento, qual é a riqueza da graça de sua herança nos Santos; e qual a suprema grandeza do Seu poder." (Efésios 1-17,18,19).

Que a graça do amor divino preencha nossas almas com a luz do entendimento.



Ras Geraldinho
Primeira Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil

domingo, 17 de novembro de 2013

Iperó, 17 de novembro de 2013

Que o poder e a força de Jah, nosso Pai Todo-Poderoso, ilumine e proteja nossos caminhos.

 Quinze meses de ostensiva repressão do Judiciário Paulista.

Esta semana passamos 2 dias trancados na cela sem nenhuma explicação do sistema carcerário.

Uma cela mínima, com espaço para 3 homens, e estamos em 8 homens...

Eu me pergunto: por que tanta crueldade do sistema?

Não temos espaço para sequer esticar as pernas. Sinto dores. Todos nós sentimos dores, mas a única medicação que o Sistema distribui são os ansiolíticos e calmantes. Quem os toma, acorda no dia seguinte grogues, como se estivessem com ressaca. Acho que eles nos querem todos mortos.

No domingo, dia de visitas, o dia amanheceu chuvoso e o clima da cadeia extremamente depressivo. Não é para menos: trezentos e cinquenta homens se apertam debaixo da pequena marquise em frente à galeria de celas.

A água fria da chuva gela o coração dos condenados do Raio Um da Penitenciária Odon Ramos Maranhão, de Iperó-SP. 

O espaço que normalmente já é apertado, torna-se insuportável com a água que cai na quadra, obrigando todos a se entulhar embaixo da mínima proteção.

Alguns, não suportando a pressão, saem andando pela quadra debaixo de chuva mesmo.

Com o passar das horas, a chuva vai amainando e a quadra começa a ser ocupada num frenético caminhar para lugar nenhum.

Um irmão que passa faz uma comparação pertinente, dizendo que "a 25 de março voltou a funcionar", num paralelo com a movimentadíssima rua comercial da cidade de São Paulo.

Para os condenados que não recebem visitas, o dia fica maior que a semana.

As conversas vão se avolumando, assemelhando-se a um mantra, desconexo e barulhento.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Iperó, 25 de outubro de 2013

A saga da Irmandade Etíope Coptic de Sião é a história de um povo sofrido que através da fé (em Jah) e da união, vence todos os obstáculos e encontram a glória da terra prometida.

Depois da última desapropriação de terras imposta pelo governo jamaicano para a implantação do Campus da Universidade da Jamaica, os Etíopes Coptic resolveram se embrenhar pelas montanhas do interior da Jamaica até encontrar um lugar longe o suficiente da "Babilônia" onde, com a divina providência de Jah, eles finalmente pudessem viver em paz e harmonia.

Depois de caminharem várias semanas por florestas intocadas e terrenos inóspitos, eles chegaram a um vale que acreditaram ser o ideal para fixarem a comunidade - a terra dos sonhos, o sião.

Porém não encontraram água em lugar nenhum.

Foi então que, após um longo arrazoamento, o Elder Gordon - líder religioso dos coptas - recebeu uma iluminação e determinou que todos procurassem por uma grande pedra. Naquela pedra estaria a resposta para suas súplicas.

Quando encontraram um grande bloco de granito, que estava com dois terços do seu tamanho enterrados ao pé da montanha, Mestre Gordon o identificou e solicitou que fosse desenterrado.

Ao término de vários dias de trabalho, a rocha foi desenterrada e movida de lugar.

Do berço daquela pedra brotou uma grande fonte de água, que garantiu a prosperidade daquele singular grupo de "Filhos de Jah".

Com a riqueza da água, que nunca mais parou de jorrar, os coptas puderam trabalhar a terra e cultivar muitas plantas que eram, a principio, para subsistência e, depois, passaram a fornecer frutas tropicais para o mercado de Miami.

Estabeleceram-se como comunidade sustentável, totalmente independente das amarras sociais do sistema político jamaicano.

Investiram em tecnologia de produção, chegaram a montar uma serraria e uma empresa de transporte para escoamento da produção agrícola e da madeira.

Foi a Irmandade Coptic de Sião que quebrou um dos maiores paradigmas do Rastafarianismo. Até o final do século XX, a fé rastafári era um sentimento religioso exclusivo dos irmãos negros, pois acreditavam que somente eles sofriam a repressão violenta imposta pelos brancos. 

Foi nesta época que Thomas Reilly, um norte-americano desertor da guerra do Vietnam, depois de passar pelo Canadá, México e Cuba, chegou à Jamaica. Na condição de foragido do exército dos Estados Unidos, ele se esconde no interior do País.

Depois de muito tempo vagando por áreas desabitadas do sertão jamaicano, ele encontrou a Comunidade da Igreja Etíope Coptic de Sião.

No primeiro contato com os membros da Irmandade, ele sofre descriminação por ser branco e cria-se um ambiente hostil.

Como era costume para se resolver conflitos, convocaram um reasoning (arrazoamento). Então Elder Gordon, num momento de iluminação, esclarece que o "sistema babilônico" não escolhe raça ou etnia e que todos somos irmãos perante o sofrimento e a perseguição.

O americano foi acolhido pela comunidade copta, passa a ser chamado de "Brother Louv" e se torna o primeiro rastafári branco da história.

Alguns anos mais tarde, depois do fim da Guerra do Vietnam, Brother Louv retorna aos Estados Unidos e funda a "Igreja Etíope Coptic de Sião de Star Island, em Miami, na Flórida.



segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Iperó, 09 de outubro de 2013

A violência e crueldade do sistema escravocrata europeu foi fundamental ingrediente para a germinação do "Espírito Rastafári".

Sistema cruel e ignorante, que classificava o africano egemônicamente como sub-espécie humana, misturando etnias sem o menor pudor antropológico.


Mesclavam aramaico com suaíli e outras centenas de extratos culturais.

Entre as nações africanas que cediam mão de obra escrava para a coroa inglesa explorar a Jamaica, a Etiópia se destacava. Desta maneira, os coptas etíopes desembarcavam naquela colônia caribenha do Reino Unido.

Uma comunidade denominada "Etíope Coptic de Sião" se instala no interior do País, depois de serem expulsos várias vezes da periferia da capital jamaicana.


Iperó, 08 de outubro de 2013

O Rastafarianismo é uma cultura religiosa de ética moral intransigente e severa. O rastaman tem como imperativo de vida o amor ao próximo e uma sede perene por justiça - a justiça divina de Jah.

Ser rastafári é negar a guerra, qualquer tipo de violência ou terrorismo, tanto física quanto psíquica, e trabalhar sempre pela paz que só existe na "justiça social".

Estes sentimentos estão tão intrinsecamente fundidos na alma rasta, que transborda pelo reggae, música que, apesar do ritmo marcante e envolvente, tem sua força maior nas letras sempre de reverência e protesto.

"One love, one heart..." - Um amor, um coração... (Bob Marley).


Iperó, 07 de outubro de 2013 - Cela 114

RASTAFARIANISMO

O rastafarianismo é um sentimento cultural religioso que brota a partir do coração africano que sofre o êxodo da escravidão.
O espírito rasta é forjado na matrix do Velho Testamento, sob a pressão do domínio, da opressão e do terror.

Uma alma que acredita que a única forma de lutar contra o castigo da escravidão é mantendo o Espírito Santo dentro do amor, proteção e, principalmente, da obediência às sagradas leis de Jah.

A fé rastafári é uma mescla ecumênica de várias raízes religiosas. Entre elas a copta - vertente de fé que declaro minha "profissão espiritual".

O espírito do "bushman" - preto velho com fé inquebrantável - começa a criar corpo quando Marcos Garvey, erudito negro jamaicano, formado em Oxford, publica suas profecias na coluna de um jornal jamaicano.

Entre elas, uma dizia que quando um rei negro africano subisse ao trono que lhe é por direito divino, assim como Moisés resgatou os judeus do jugo egípcio, os (escravos) negros oprimidos estariam livres do braço imperialista da Inglaterra, podendo assim retornar à terra prometida, ao Sião, na África mãe. Estamos no início da década de 1930.

Neste mesmo período, Tafari Mokame, um jovem descendente em linha direta com Salomão, é empossado Rei da Etiópia, passando a ser chamado pelo nome real de Ras Tafari - Haile Sellasie I.


Os jamaicanos viram neste acontecimento a realização das profecias de Garvey e passaram a se auto-intitular rastafáris. O movimento toma corpo e cresce muito dentro da Jamaica e nas Antilhas até que, através das melodias do reggae, vai para as Américas e toma o mundo.

Peter Tosh, Bob Marley, Burn Spear, entre outros, encantaram a todos com a música do Espírito de um povo que acredita que só o amor e a fé na lei da Jah pode nos salvar.


Por ser o rastafarianismo um movimento cultural-religioso de resistência (contra a opressão colonial), ele prega como mandamento pétreo a paz fundamentada na Justiça Divina da Real Verdade, que só se atinge através do "amor fraternal universal", dogma que só é atingido dentro da graça de Jah, o Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judah.

Este é o mantra básico do pragmatismo rastafári.