segunda-feira, 18 de março de 2013

A Cannabis e a Religião através dos tempos

Desde o limiar de nossa consciência, a humanidade tem se relacionado com a Cannabis de forma venerável, pois, de todas as plantas que o homem experimentou, e podem ter certeza que experimentamos todas, ela é a de maior benefício.
 
De alimento a remédio, de vestimenta a utensílio de guerra, são catalogados mais de vinte e cinco mil produtos derivados da planta. 

Há dois mil anos já se conhecia muitas utilidades, no livro do Apocalipse do Apóstolo João, encontramos esta afirmação: 22-2 “No meio das ruas, e de cada lado do rio, estava a Árvore da Vida, que produz doze frutos diferentes, dando todos os meses seus frutos e as folhas da Árvore eram para a cura das nações.”

Entre os incontáveis usos, alimento e remédio são as mais nobres de suas utilidades. Alimento e remédio para o corpo e, principalmente, para a alma.

Quase todas as religiões da antiguidade usavam a Erva Sagrada como sacramento.

Heródoto (480AC), historiador grego designado como “Pai da História” realizou grandes viagens pela Ásia, europa, África, o Bósforo e a totalidade da Grécia, foi amigo de Péricles e Sófocles. Escreveu conpêndio com nove livros sobre as antigas civilizações, onde fez muitos relatos do uso da Cannabis na liturgia das antigas religiões e nos cultos ancestrais.

Outro grande historiador das religiões, o romeno Mircea Eliade, tendo como suas principais obras: “História das crenças e das ideias religiosas (1975)” e “O mito do eterno retorno (1949)”, afirma categoricamente que a Erva Sagrada era parte fundamental dos cultos antigos e que permanece até hoje nas mais diversas religiões.

Egipcios, celtas, árabes, hindus, africanos, praticamente todas as culturas usam a Erva como canalizador com o numinoso (divino).

A cultura religiosa Judaica-Cristã é liturgicamente entrelaçada com a santidade da Erva. No Pentateuco (Velho Testamento) ela é citada inúmeras vezes. No Paraíso existiam duas plantas: A ´´Arvore da Sabedoria”, que é a consciência divina e a “Árvore da Vida”, que garantia todo bem e saúde ao homem. Sem dúvida era a Cannabis.

Moisés conversava com Deus através de um arbusto em chamas. Qual seria este arbusto?
Para receber a iluminação dos Dez Mandamentos, ele passou vários dias no Monte Sião coberto por uma nuvem. Nuvem de fumaça da queima da Erva que cobria toda aquela região.

Canaã, a Terra dos Cananeus, citada centenas de vezes, quer dizer Terra da Cannabis, pois era a cultura agrícola da região.

A Erva era usada de formas diversas na liturgia, mas principalmente como incenso e óleo de unção, que eram empregados em diferentes formulações. Em Êxodos 40 temos uma boa ideia destes usos. Também era usada como oferta de sacrifício na forma de pão e na chamada flor de farinha.

Assim como no Antigo, o Novo Testamento é repleto de citações sobre a Planta Sagrada.
Uma passagem digna de referência é encontrada em três lugares diferentes na Bíblia, nos Evangelhos de Mateus (12-1~4) Marcos (2-23~26) e Lucas (6-1~5), que dizem o seguinte: Jesus caminhava com seus discípulos por uma plantação (seara), colhiam espigas, debulhavam nas mãos e as comiam, quando foram interpelados por um fariseu...

Neste caso, é patente se tratar da Cannabis, porque espigas que podem ser comidas in natura é só a dela. Trigo não dá para se comer desta maneira, tão pouco o milho, que não comemos crú e é uma planta da América Central descoberta pelos europeus 1.500 anos depois de Cristo.

No século V um monge-teólogo que usava a alcunha de Pseudo-Dionisio escreveu extensa obra (O Areopagita), que muitos afirmam ser a síntese teológica que tornou-se o nascedouro da iniciação e da constituição da mística cristã. Trabalhava com a teoria do abandono da percepção e da razão, a chamada Via Apofática.
Seu legado influencia tanto o cristianismo que Tomás de Aquino o menciona cerca de 1700 vezes em suas obras. Pseudo-Dionisio afirma a importância do uso do incenso e do óleo de unção na Liturgia da Tearquia. Sobre o uso do óleo, que ele julga de extrema importância, o monge dedica um capítulo inteiro, com o título “Sobre aquilo que se realiza graças aos Santos óleos e as consagrações as quais eles servem.”
Vejamos alguns trechos:
“Tal é, pois, a grandeza da Santíssima Comunhão, e tais são os belos espetáculos pelos quais temos lembrado muitas vezes. Ela eleva nossa inteligência até o Uno, graças a estes ritos hierárquicos que nos fazem entrar em comunidade e em comunhão com ele. Mas existe outra consagração que pertence à mesma ordem: nossos mestres a chamam de sacramento da unção.”
“O sumo-sacerdote toma, então, o óleo santo, coloca-o sobre o altar dos divinos sacrificios sob a proteção de doze asas santas.”
“O ensinamento espiritual ao qual nos eleva este rito consecratório da santa benção do óleo, é, creio, o de nos mostrar que os homens piedosos guardam secreto o bom odor de sua santidade intelectual.”
… “e, assim, graças ao símbolo do óleo divino, inicia-se santamente nos mistérios infinitamente sagrados que a Igreja assim dissimula.”

Importante sabermos também que estudos e pesquisas antropológicas da atualidade indicam que Jesus Cristo usou a Erva Sagrada em vários dos seus conhecidos milagres.
 
A África é o berço da religiosidade humana. Desde a Abissinia, um dos impérios mais antigos do mundo, os africanos usam a Cannabis para a conexão numinosa (divina).
Foram eles que, quando escravizados, trouxeram a Erva para a América.

No Brasil, o uso da Planta Sagrada era parte importante dos rituais de umbanda e candomblé, até 1937, quando houve a proibição.
Os “preto velho” usavam diamba no cachimbo, depois foram obrigados ao uso do tabaco. Os cablocos (orixás das matas) usavam Cannabis, não charutos, como hoje em dia.

Assim como ocorreu aqui, foi também nas Antilhas. A única diferença foi que, para lá foram enviados os povos do leste da África, com uma orientação religiosa diferente. Os africanos que lá chegavam eram predominantemente etíopes, com base de fé no Velho Testamento e intimidade enorme com a Erva em seus cultos. Vem daí a predileção dos Rastafáris pela “Ganjah”, a erva que nos une a Jah.

Podemos perceber que a história da humanidade é entrelaçada com a Cannabis, principalmente se tratando de religiosidade, pois, na antiguidade a ação religiosa e a medicina se confundiam. Tanto é que o símbolo da medicina vêm da Erva. No ícone médico, o cajado é o caule da Cannabis, oriundo de curandeiros japoneses que usavam o cajado (de cânhamo) amarrando na ponta um grande punhado de buchas para os rituais de cura.

Esperamos que, em breve, a inteligência humana prevaleça e esta ignorante proibição acabe.

Acabando com ela, a violência e o carma negativo, criado unicamente pelo interesse do poder econômico devastador.
Que jah derrame suas bençãos sobre nós e a iluminação prevaleça!

Eu e eu
Ras Geraldinho

terça-feira, 12 de março de 2013

Jesus e os fariseus

Então Jesus falou à multidão e aos seus discípulos.
 
2 Ele disse: – Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés.
 
3 Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam.
 
4 Amarram fardos pesados e os põem nas costas dos outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao menos com um dedo, a carregar esses fardos.

5 Tudo o que eles fazem é para serem vistos pelos outros. Vejam como são grandes os trechos das Escrituras Sagradas que eles copiam e amarram na testa e nos braços! E olhem os pingentes grandes das suas capas!

6 Eles preferem os melhores lugares nos banquetes e os lugares de honra nas sinagogas.

7 Gostam de ser cumprimentados com respeito nas praças e de ser chamados de “mestre”.

8 Porém vocês não devem ser chamados de “mestre”, pois todos vocês são membros de uma mesma família e têm somente um Mestre.

9 E aqui na terra não chamem ninguém de pai porque vocês têm somente um Pai, que está no céu.

10 Vocês não devem também ser chamados de “líderes” porque vocês têm um líder, o Messias.
11 Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros.

12 Quem se engrandece será humilhado, mas quem se humilha será engrandecido.

13 – Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês fecham a porta do Reino do Céu para os outros, mas vocês mesmos não entram, nem deixam que entrem os que estão querendo entrar.

14 - Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês exploram as viúvas e roubam os seus bens e, para disfarçarem, fazem longas orações! Por isso o castigo de vocês será pior!

15 – Ai de vocês, mestres da Lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês atravessam os mares e viajam por todas as terras a fim de procurar converter uma pessoa para a sua religião. E, quando conseguem, tornam essa pessoa duas vezes mais merecedora do inferno do que vocês mesmos.

16 – Ai de vocês, guias cegos! Pois vocês ensinam assim: “Se alguém jurar pelo Templo, não é obrigado a cumprir o juramento. Mas, se alguém jurar pelo ouro do Templo, então é obrigado a cumprir o que jurou.”

HEMP-OIL – O ÓLEO DA UNÇÃO

A Cannabis acompanha a humanidade desde sua saída do paraíso.
Primeiro cultivo dos grupamentos hominídeos, esta planta nos deu alimento, roupas, proteção, cura, artefatos de engenharia e êxtase.

Com todos estes atributos, não é de se espantar que desde os primórdios das civilizações ela tivesse relevante papel sacramental nas religiões.

Na pré-história, a planta já era tida como sagrada, garante Mircea Eliade, especialista em história das religiões, sendo ela usada ritualisticamente pela maioria das crenças da antiguidade.

As religiões da India, China, África e Oriente Médio sempre usaram a Cannabis como canalização para a experiência numinosa.

Antes da proibição da planta no Brasil, em 1937, a defumação dos terreiros de umbanda era feita com a Erva e no cachimbo do Preto Velho não tinha fumo, o que se pitava era a Diamba.

Não diferente são os costumes Judaico-Cristãos. Tanto o Pentateuco quanto outros livros sagrados judeus, como a Biblia Cristã, são repletos de citações da planta.

Começando em Gênesis e como última citação em Revelações (apocalipse) 22-2 lá está a Árvore da Vida.

Moisés foi um dos maiores difusores do seu uso ritualistico, estando ela presente nos cinco livros.

O interessante é que a planta sagrada é usada de duas maneiras: como incenso e como óleo de unção.

Exodus 40 é abundante no uso dos dois elementos, o óleo e o incenso, onde tudo e todos são ungidos pelo óleo, e a fumaça é constante no Tabernáculo. Seria até enfadonho fazermos a citação de todas as passagens, pois são inúmeras as referências.

Porém, em relação ao incenso, fumaça, existe a passagem de Pentecostes que é exemplar, que em resumo diz: “setenta profetas no Tabernáculo, cada um com turíbulo (incensário) em sua mão e uma língua de fogo se acendeu na cabeça de cada um.

Quanto ao uso dos santos óleos encontramos sábia referência nos textos de um monge que viveu no século quinto, que por razões de anonimato usava a alcunha de Pseudo-Dionisio. Este clérigo, identificado como filósofo-teológo é reconhecido como o construtor da iniciação da mística cristã.

Em sua obra intitulada “O Areopagita” ele descreve a real importância do óleo na liturgia, que transcrevemos:

Capítulo 4: -
“I- Sobre aquilo que se realiza graças aos santos óleos e as consagrações às quais eles servem.”
“Tal é, pois, a grandeza da Santíssima Comunhão, e tais são os belos espetáculos pelos quais temos lembrado muitas vezes. Ela eleva nossa inteligência até o Uno, graças a estes ritos hierárquicos que nos fazem entrar em comunidade e em comunhão com ele. Mas existe outra consagração que pertence à mesma ordem: nossos mestres a chamam de sacramento da unção. Quando examinamos de maneira sistemática as santas imagens que no-lo representam, a multiplicidade destes símbolos nos elevará por meio da contemplação hierárquica até o Uno.”

“II- Mistério do Sacramento da Unção”
Como para a comunhão, as ordens menos perfeitas são excluídas assim que os membros da hierárquia tiverem espalhado santos perfumes (incenso), em torno do templo, que se cantou piedosamente os salmos e que se fez memória das Santíssimas Escrituras. O sumo-sacerdote toma, então, o óleo santo, coloca-o sobre o altar dos divinos sacrificios sob a proteção de doze asas santas.
Entretanto, a assembléia inteira faz reboar o cântico de hino santíssimo que o próprio Deus inspirou aos profetas.
Tendo consagrado o óleo por uma santíssima invocação, ele o utiliza para as mais santas consagrações litúrgicas, por ocasião de quase todas as cerimônias hierárquicas.”

III- “Contemplação”
“ O ensinamento espiritual ao qual nos eleva este rito consecratório da santa benção do óleo, é, creio, o de nos mostrar que os homens piedosos guardam secreto o bom odor de sua santidade intelectual. Porque o próprio Deus prescreve aos santos não pôr à vista por vão esforço de glória a beleza e o bom odor do esforço virtuoso pelo qual eles tendem à semelhança do Deus oculto. Essas secretas belezas divinas, cujo perfume ultrapassa toda operação da inteligência, escapam, realmente, a toda profanação; elas não se revelam senão à inteligência daqueles que tem o poder de compreende-las, porque lhes convém não se refletir em nossas almas a não ser através das imagens que se lhes assemelham e que tenham, como elas, a virtude da incorruptibilidade.”

“Ora, a representação desta virtuosa conformidade com Deus não desenha, de fato, a imagem autêntica de seu modelo a não ser quando a alma fixa seu olhar nessa Beleza inteligível e perfumada; porque somente a este preço ela pode imprimir e reproduzir em si mesma as mais belas imagens.”

“A contemplação atenta e constante dessa Beleza perfumada e secreta é que permite atingir a exata semelhança do modelo, a perfeita conformidade divina.
… contudo, se praticam as virtudes que a imitação de Deus exige, não é de modo nenhum para se dar em espetáculo aos homens, segundo as palavras das Escrituras (MT 23-5) e, sim, graças ao símbolo do óleo divino, para se iniciar santamente nos mistérios infinitamente sagrados que a Igreja dissimula.

“Que dizer ainda? Não é verdade que consagrando os óleos procede-se conforme os mesmos ritos que para a comunhão? Nós já o recordamos.”

“Assim a composição simbólica dos santos óleos, dando de algum modo figura àquilo que é sem figura, mostra-nos de maneira figurada que Jesus é a fonte fecunda dos divinos perfumes, que é ele próprio que, na medida que convém à tearquia, difunde sobre as inteligências que atingiram a maior conformidade com Deus e os divinos eflúvios que seduzem agradavelmente as inteligências e que as dispõem a receber os dons sagrados e a se saciar com um alimento intelectual, cada potência intelectiva recebendo então as efusões odoríferas, segundo a parte que toma nos mistérios divinos.”

Para o monge-filósofo Pseudo-Dionisio, tanto o incenso quanto os santos óleos são parte do sacramento religioso. Poderíamos dizer que são canalizadores para com o numinoso (o divino). Suas exegeses (textos), baseados no platonismo, influenciaram toda teologia posterior, são marcadas pela crença de que o ser humano aproxima-se de Deus através do abandono da percepção e da razão, a chamada via apotática.

(Bibliografia: “Obra Completa – Pseudo-Dionisio o Areopagita – Editora Paulus – 2004)

Que a glória de Jah se derrame sobre nós!

Ras Geraldinho
Rastafari